Conversando abertamente sobre suicídio
Na psicologia definimos o suicídio como um gesto de autodestruição, de realização do desejo de dar fim ao próprio sofrimento emocional ou ao desejo de morrer. O suicídio é uma escolha e uma ação com grandes consequências para o meio social, podendo acontecer em todas as idades, etnias e classes sociais.
Estima-se que anualmente cerca de 10 a 20 milhões de pessoas tentam suicídio, e a cada suicídio concretizado, cerca de 6 a 10 pessoas sofrem consequências irreversíveis em suas vidas. Esses números são muito altos para que passem despercebidos pelas autoridades mundiais de saúde e por profissionais da área da saúde mental.
Muitas causas levam a pensamentos e atos suicidas. Em geral, as pessoas tem necessidade de aliviar pressões externas e dores emocionais, depressão, transtornos de ansiedade graves, medos, traumas, mágoas e culpas ligadas a fracassos financeiros, perdas de emprego ou posição social, considerados fracassos e humilhação.
Na maioria dos casos, as pessoas combinam duas ou mais situações e sentimentos conflituosos, gerando o sentimento de ambivalência onde pensamentos de fuga e desaparecimento se alternam com pensamentos negativos de não serem capazes de resolver seus problemas, não enxergarem saídas ou possibilidades. Todos esses conflitos geram a necessidade da busca pela paz e o descanso, na intenção de uma situação melhor, provocando o surgimento do pensamento suicida, onde este parece ser o meio mais rápido e eficaz de “resolverem” todo o sofrimento que vivem.
Infelizmente, o pensamento suicida é algo que faz parte da natureza humana, e é impulsionado pela possibilidade de fazer essa escolha, mas também é uma reação que acontece naturalmente frente a situações de grande estresse e dores emocionais, sendo mais comuns em pessoas já fragilizadas por mais de uma situação. O suicídio não está ligado diretamente a uma doença mental, mas sim a um momento crítico que pode despertar esse pensamento.
Diferente do socialmente falado, o número de homens que cometem suicídio é maior do que o de mulheres, apesar das mulheres tentarem mais vezes do que os homens. Isto está diretamente relacionado com a cultura patriarcal, onde o homem não pode demonstrar sentimentos ou pedir ajuda para lidar com eles. Muitos são os preconceitos sociais que ainda envolvem o homem e a saúde mental “abalada”, e, por isso, infelizmente muitos conseguem tirar suas vidas, sem ao menos receber qualquer tipo de ajuda. Diferente das mulheres, que de forma geral tem um espaço maior para demonstrarem suas emoções e “fragilidades”, e dessa forma receberem ajuda.
Frequentemente as pessoas que pensam em suicídio pedem ajuda em momentos críticos, mas fazem também algumas mudanças que podemos estar atentos como: isolamento, mudanças de hábitos muitos marcantes, perda do interesse na aparência física, queda no desempenho profissional ou escolar e alterações de sono e alimentação. Associado a tudo isso, podem aparecer falas como “eu quero sumir” ou “prefiro morrer” – esses casos demonstram necessidade de atenção e possivelmente de ajuda.
Muitas pessoas que pensam em suicídio podem desistir dessa ideia se receberem apoio e puderem falar sobre o assunto sem julgamentos, recebendo acolhimento e respeito da sua rede de apoio, que são aqueles em quem confia. A combinação de profissionais de saúde mental e ONGs como o CVV, que disponibiliza atendimento gratuito 24 horas todos os dias, tem grandes chances de auxiliar na promoção da saúde mental e da qualidade de vida.
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